segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Geografia - Aguarela Italiana 2














"(...) E assim Roma ama gemendo, reza murmurando, protesta gritando, implora cantando, revê-se olhando tectos, cúpulas, arcos, Césares e colunas. Pisar Roma é desgastar História. Roma é cidade para ver de helicóptero ou como naquele palácio em Petrópolis onde se entra em chinelos de flanela para não desgastar o chão.

Fotografar, filmar Roma exaustivamente é arquivar História. Roma acabará só cúpulas - se a deixarem. Se eu mandasse, punha, para já, uma corda à sua volta e obrigava as pessoas que quisessem nela entrar a fazerem-no descalças e de mãos postas: gastavam assim menos as pedras dos caminhos, ao mesmo tempo que faziam penitência, e, com as mãos juntas, rezavam e não mexiam nos belos mármores em que só os olhos têm o direito de tocar.

Sai-se de Roma triunfalmente por baixo de um dos seus arcos, deixando a César o que é dele. Cá fora, uma quadriga espera-nos. E é um salto a Florença. Em poucas horas, umas vezes de quadriga, parte a cavalo, avançam-se catorze séculos até à porta dos Médicis. Amarra-se o animal à entrada e vai-se a pé pela cidade. E devagar. Em cada dois passos um de distracção é, em Florença, tentar ler a enciclopédia, página sim, página não. Mas ler a enciclopédia é difícil e moroso. Florença leva uma vida a ler. Para não perder tudo, lê-se por capítulos, que é como quem diz, por quarteirões. E passam-se à frente muitos, para não omitir algumas sequências preciosas a que uma leitura só das páginas pares conduziria. É que há páginas ímpares na história de Florença.(...)".

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