sábado, 28 de janeiro de 2012

Geografia - Termas do Silêncio 1








Para o mais tripeiro dos tripeiros que a Austrália, por certo, conheceu


"O rio a um lado, o mar a outro. No meio, Ofir. Ao longe o Monte de Faro. Aqui, uma moradia, ali, uma estalagem, hotéis, uma piscina e mais outra e outra. Por todo o lado, pinheiros mansos e bravos, alguns eucaliptos e choupos e o chilrear dos pássaros. Esposende à vista e Fão também. Por cima, gaivotas fazendo acobracias, em esquadrilhas ou isoladamente, ante o olhar doce de higiénicas vacas que entre duas pastagens atravessam o Cávado e lavam as tetas ubérrimas de leite que, ao romper do sol, depois de nos espreguiçarmos à janela do quarto, se bebe regaladamente.

De uma ponta à outra o silêncio. Os automóveis, que a um quilómetro passam a caminho de Viana ou do Porto, não se ouvem. Os que aparecem em Ofir evitam buzinar e pensa-se que têm motor com silenciador para entrar nesta zona. O rio quase não mexe. O mar, esse, é menos discreto, mas faz o possível para não perturbar a tranquilidade do meio: à medida que se aproxima da praia perde arrogância e mal ali chega, quando muito, barafusta com o areal. Com tanta graça o faz, porém, que as pessoas às vezes abeiram-se dele só para o verem brincar ao esconde-esconde com a praia.

Os grandes atrevidos da paisagem são, no meio de tudo, os pássaros que se ouvem mas não se lobrigam: divertem-se a ver-nos à sua procura por entre as pinhas das copas dos seus abrigos que abundam em redor.

Se surge nevoeiro, então ouve-se uma vaca mugir ao longe - alguns dizem que é um aviso para a navegação - que, às vezes, leva horas naquele lamento a que a gente se habitua e acaba por não ligar.

De resto, Ofir não tem cartazes, nem paredes com frases pintadas de fugida. Ofir não tem Rossio nem Chiado. Nem gritos, nem palavras de ordem. As barbas que tem são importadas. As suas são de milho. Limpas. E cheiram a mar. E o mar cheira a lavado. Como o ar que se respira.. (...)"

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