quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
Geografia: Munique 3 *
"(...) A Marienplatz é, em Munique, ponto de encontro, cruzamento, sala de reuniões de quase todos os que por lá passam. E não se vislumbra um Hitler. A menos que, em genial pirueta, de que, só os políticos são capazes, o ditador tenha decidido ser mímico, músico, poeta ou cantor. Não me pareceu o caso. Julgo, sim, ter visto o tal Estaline dos meninos-bem, disfarçado a tocar viola em mágica metamorfose só própria dos grandes impostores da História. Se a poesia que, à primeira vista, resulta da cena é impressionante, a verdade é que, em análise mais cuidada, se verifica que a verdadeira Munique não é a que ali se vê. A menos que a Oktoberfest seja uma patranha.
Munique, vista com atenção, surge-nos impressionantemente diferente de qualquer outra cidade europeia. Até no amor. Não é como Paris, que o faz a na rua e a qualquer hora. Não. Munique fá-lo pela calada. A horas certas. Corre mesmo o risco de meter tão nobre sentimento no computador. Há, com efeito, poucos bebés. E, em relação aos que há, fica a impressão de que são proveta.
No entanto, a Baviera dá mulheres lindas cujo ar eventualmente "sexy" se sente logo no porte. Chega a ter-se a sensação de que Munique é uma passagem de modelos permanente onde os belos trajos escondem formas divinas. Entretanto, o amor na Alemanha tudo indica ter lugar entre as dez e as onze da noite (ou ao fim-de-semana - uma hora mais tarde ...) uma vez que há que dormir para depois trabalhar. Sobra, todavia, algum amor pelas ruas, mas discreto, motorizado. Anda de Mercedes. Apesar de tudo, apresenta-se elegante e dissimulado. A miséria que, aliás, se julga ver é a riqueza da família feita rebelião. Os estalinistas, ou quejandos da Marienplatz, são, com efeito, uns brincalhões, ou uns poetas.
Uma coisa é uma sociedade de consumo fatigada pela abastança e desejando andar de coche (a jacto, se possível), outra é a apologia da pelintrice como forma de vida normal. A Alemanha quando "quiser" ser pobre recolhe ao laboratório, procede à abolição provisória da régua e do esquadro, mas vai pesquisar afanosamente a fórmula que a há-de tornar mais rica, eventualmente por novos caminhos. O andrajo na Alemanha é apenas - irreverência. É retorta de laboratório, instrumento utilizado na procura de novos processos para ser ainda mais feliz. E surge então, excepcionalmente, o comunismo como ideia. Mas não como mais do que isso. Estaline todo roto a fazer momices na Marienplatz tem piada para alguns. E basta. Os turistas, sobretudo, acham-lhe graça. Os alemães que se riem com semelhante espectáculo são, de uma maneira geral, os complexados que vão a Berlim e olham do lado de cá do Muro para a outra banda, gozando ante o ar desconfiado de Leste. Mas são raros. Não contam.
A simplicidade a que a Alemanha e, portanto, Munique, aspira é um facto, mas não passa pela negação do bem-estar e da prosperidade. Munique talvez queira andar de coche, talvez deseje ser puxada a cavalos. Mas quer que os coches tenham bons estofos e que os cavalos sejam velozes e bem ajaezados. E entre o ouvir uma balada na Marienplatz e o cantar a plenos pulmões com a caneca da cerveja numa mão e uma rosa na outra, não hesitará na adopção desta última alternativa. Por isso, Munique, à tua saúde - cá vai!..."
* in À Sombra da Minha Latada, de M.A.
2012 Nota: os tempos podem criar novas opiniões gerais, mas não modificam a entranhada "fúria" da cerveja, até cair, das gentes da Marienplatz ... Quem quiser, tem aí ao dispor o You Tube e as monumentais bebedeiras de Outubro, nomeadamente. E ... e, já agora, a pose pimpona da senhora Merkl - que veio de Leste.
Subscrever:
Enviar feedback
(
Atom
)
Sem comentários :
Enviar um comentário