quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Geografia - Viajemos com Mozart 2












"(...) Os artistas plásticos são traidores relativamente a Salzburg. Que estão a fazer na Place du Tertre, em Paris? Que tem mais para lhe dizer o Sacré-Coeur, com toda a sua beleza, do que a formosa cidade austríaca? E, no entanto, só aqui vi um pintor na rua. Vêem-se, sim, valha-nos isso, milhares de máquinas fotográficas a disparar por todo o lado. Benza-as Deus! Há tanta coisa para fixar. Agora é o rio Salzach, depois uma ponte, logo o casario, a seguir outra ponte, mais adiante uma torre pontiaguda e, finalmente, o verde resplandecente, o verde a que apetece, sem se saber porquê, chamar glorioso. Por vezes, a cidade surge aconchegada pela montanha. Que não consegue ser agreste mas que, ajudada pelo clima, se cobre de um manto de vegetação, deixando cair pelas encostas como que franjas a que o sol, de quando em vez, concede tonalidades variadas fazendo de todo o berço de Salzburg uma das paisagens mais belas deste descabelado mundo em que vivemos.

Em Salzburg sobe a gente no funicular até ao castelo e fica-se para ali como que embriagado, como que esquecido, observando o viçoso ondeado das colinas polvilhado, aqui e além, de casas isoladas ou de palacetes com as suas torrres em forma de cabeça de nabo apontadas para o céu. Não muito além, é, então, sim, a verdadeira montanha que, em dia claro de uma tarde estival, se nos apresenta, à distância, em sucessivas gradações de cinzento, mais e mais suave à medida que se afasta dos nossos olhos. O que é verde, e é muito, assemelha-se a um colchão de penas assim fofo, macio, aveludado.

O chamado progresso já lhe fez, apesar de tudo, algumas partidas. Percorrendo com os olhos do alto do castelo, a paisagem circundante, lá aparecem as chaminés das fábricas e um ou outro edifício mais alto, mas que não chega para destruir a graça de tudo o que nos envolve e em que os velhos telhados cor de ardósia alternam com o verdete das cúpulas dos palacetes e igrejas. É assim esta Disneylândia europeia que nos faz amar definitivamente a vida e acreditar em valores superiores (...)."

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