quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Mudam-se os tempos ...

Mudam-se os tempos, mudam-se as vaidades. Tenho saudades dos tempos em que os rebanhos, alegres, atravessavam a aldeia. Tenho saudades daqueles fins de tarde em que, risonho, o ti Godinho aparecia no Cimo do Povo à frente da junta de bois com que lavrara, quase de sol a sol, os campos à beira-rio. Bem sei que, não raro, um tal cortejo deixava bosta no chão e cheiro na atmosfera, mas, para falar verdade, não me lembro, por outro lado, de, nas paredes ler tanta informação sobre mortes como neste tempo de vacinas e de leite pasteurizado. É claro que, aparentemente pelo menos, ao que dizem (DIZEM), a vida melhorou: a estrada está asfaltada, os esgotos passaram a ter canos que os levam, a água vem directamente dos que a tratam para casa de quem a bebe, a luz dispensou o petróleo que, por sua vez, já dispensara o azeite e os cheiros que daí se espalhavam. 

Já quase ninguém, à hora do serão, passeia estrada abaixo, estrada acima. O Godinho morreu e com ele, os tempos em que a vaidade visível não ía além do vestido novo, nas raparigas, e da gravata às cores dos homens, em dia de casamento ou baptizado.


Ai como, apesar das crises que passam, está diferente a vaidade em Portugal!


Anda no ar uma espécie de novo-riquismo, a palavra bem-haja morreu. O que há é o obrigado do anonimato citadino. O que há é um bom-dia selectivo, o que há é como que o império do dinheiro, bem ou mal ganho, o que há é a inveja surda, mais ou menos disfarçada. Tenho saudade do bem-haja autêntico que, "traduzido", dizem ser o mesmo que obrigado - sem o voto de que a expressão antiga dava sinais ... Na diferença, quase tudo.

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