Entrevista com M.A., em Melbourne,
a propósito da recolha de elementos para o livro
ENTRE VISTAS nos Arredores das Montanhas Azuis,
publicado em Lisboa, em 1998
III
"- Se tivermos em conta que estamos a falar para toda a Austrália, qual é a impressão que lhe fica?
- Desde logo, não vou ter oportunidade de falar com os portugueses que estão, por certo, espalhados por todas as cidades australianas, mas há aqui uma coisa verdadeiramente surpreendente para europeu: na Europa fala-se em ambiente, aqui há AMBIENTE. É notável este casamento entre a Natureza e o Tecido Urbano. De facto, uma coisa é falar outra é fazer, e aqui nota-se essa preocupação, essa coisa de penalizar, multar quem arranca um árvore é uma coisa a que ainda não chegámos - nem de perto, nem de longe.
Ao Pólo Norte não fui, ao Pólo Sul também não, mas agora já passei por todos os continentes e é na Austrália que tenho visto essa notável preocupação de defender a Natureza.
- Esta tarde esteve nas margens do rio que banha Melbourne.O que é que achou?
- Achei uma maravilha! Hoje, no tempo que tive disponível entre esta entrevista, este contacto precioso com os nossos compatriotas, subi à torre mais alta de Melbourne e, de facto, senti-me "mosca tonta" de câmara de vídeo na mão a filmar tudo o que à volta era paisagem, porque se vê paisagem ... apetecia-me dizer, "em volta do Tejo"...
- Voltando ao seu trabalho, está disposto a falar com quem conseguir contactar para as investigações que está a fazer?...
- Trago, como já tive oportunidade de referir, uma lista de pessoas que têm tido vivências importantes aqui na Austrália, e que, por isso, é suposto estarem bem informadas ... Mas depois, cá, tentei melhorar essa lista - de resto, bastante diversificada.
- Por quanto tempo irá permanecer na Austrália para concretizar o seu trabalho?
- Mais uma semana ...
- Acha que vai conseguir falar com toda a gente?
- Com toda a gente não. Mas com toda a gente que está programada, com certeza. Vim para aqui para trabalhar: começo às 6 da manhã e não tenho horas para terminar - a noite deste trabalho não é minha.
- Falando com tanta gente, com certeza que encontrou coisas interessantes ... O que é que o chamou mais a atenção?
- Timor. Na primeira entrevista que fiz aqui na Austrália, o senhor a que perguntei o que pensava sobre Timor, não conseguiu falar ... Foi a primeira emoção.
Mas se quisermos sair daqui pelo pitoresco, eu contaria uma rapidíssima história de um compatriota nosso com quem falei, que é hoje taxista, e que, a certa altura, no desemprego, não sabendo nada de pintura, de mistura de tintas, conseguiu ser admitido como oficial da arte ... Deram-lhe, então, um aprendiz para o auxiliar ... Só que o nosso oficial, a quem deram também uma pistola para pintar, não sabendo nada da coisa, naturalmente, foi... foi à casa de banho ganhar tempo para que o aprendiz fosse o primeiro a mexer-lhe... Acontece que, quando regressou, já o aprendiz, naturalmente, tinha a pistola montada e pronta a pintar ... E assim começou a sua profissão de "mestre" que não era ... Hoje é um homem que está bem na vida e não precisa de pintar mais ...
Subscrever:
Enviar feedback
(
Atom
)
Sem comentários :
Enviar um comentário