quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Macau: Até tu, Prada?


by Ponto Final
Abrandamento económico na China e dificuldades na renegociação das rendas ditam redução do investimento da icónica marca de luxo italiana.
"De El Dorado a mercado interessante. A definição é de Carlo Mazzi, presidente da Prada, e resume o actual posicionamento do grupo transalpino de venda a retalho no mercado asiático: “Acreditamos que pode voltar a ser um mercado razoavelmente interessante, mas é difícil dizer quanto tempo isso levará”, afirmou Mazzi, em entrevista à agência Reuters.
O valor excessivo das rendas contribui para a retracção do investimento de retalhistas de peso. “Tal como os nossos concorrentes, começámos a renegociar as rendas das lojas em pontos fracos como Hong Kong e Macau, mas os senhorios não estão a ser muito receptivos, são bastante rígidos”, acrescenta. Uma opção difícil de compreender, tendo em conta que é precisamente na região Ásia-Pacífico que se situa o maior mercado da Prada, representando 36 por cento das receitas totais do grupo. Só a Grande China contribui com 22 por cento, o que se traduz em quase sete mil milhões de patacas.
A China foi, de resto, o motor de crescimento do sector do luxo durante anos, sendo hoje um problema acentuado para as grandes marcas, resultado do abrandamento económico do agora entorpecido gigante asiático. O principal índice bolsita do continente – o Shanghai Composite – caiu quase 40 por cento em Junho, depois de sete anos em alta. O grupo de Milão, fundado em 1913, não escapou ao abrandamento generalizado, tendo assistido à queda das suas margens de lucro nos últimos trimestres, com as receitas enfraquecidas e o crescimento dos custos. Foi de 17 por cento a queda nas vendas a retalho na região da Ásia-Pacífico nos quatro primeiros meses do ano. Até ao final de Abril, os resultados da Prada cresceram marginalmente apenas devido ao impulso das divisas.
Um travão na expansão da marca
A Prada assinala ainda que no ultimo mês a tendência na região Ásia-Pacífico mudou pouco, devido às dificuldades que persistem em Hong Kong e Macau. Ainda assim, só a 15 de Setembro serão conhecidos os resultados do exercício financeiro da empresa relativo ao primeiro semestre. Na mesma entrevista, concedida em Milão, Mazzi admite que “impulsionar as vendas não é um objectivo fácil nesta altura”. “A fase de investimentos massivos no retalho ficou para trás”. O responsável pelo grupo sublinha a necessidade de procurar alternativas à expansão da rede de lojas. A aposta passa agora pelo e-commerce e pela melhoria dos resultados nas lojas já existentes.
O chairman do império que tem Miuccia Prada como directora criativa e co-directora executiva, admite que a ordem é para limitar a expansão de projectos no eixo Hong-Kong/Macau. Fica, no entanto, a garantia de que o encerramento de lojas na China não é uma possibilidade. Mazzi esclarece ainda, numa clara distinção de mercados: “Não vamos confundir a China com os mercados da América do Sul, derrubados pela queda nos preços do petróleo. A China não está de joelhos, apenas necessita de corrigir alguns problemas relacionados com a sua economia”, complementa.
Presença global refreada
O grupo Prada – que agrega ainda as marcas Miu Miu, Church’s, Car Shoe e Marchesi – detém cerca de 600 lojas a nível global, distribuídas por mais de 70 países. Só na Grande China concentram-se 94 desses espaços. Carlo Mazzi sublinha que, para Hong Kong, onde a marca detém 22 lojas, a expectativa é de que a recuperação se venha a verificar, ainda que com ganhos menos elevados. Numa altura em que nenhum mercado alternativo se impõe, Mazzi assume que a marca não está a apontar baterias para nenhum país em concreto: “Há incertezas que retraem os investimentos em mercados onde tínhamos planeado impulsionar a nossa presença, como África”, acrescentando ainda os problemas logísticos e políticos que se verificam na Índia. Em Macau, é possível adquirir artigos da marca em dois pontos de venda, no Wynn Macau e no Four Seasons, no Cotai."

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