domingo, 20 de setembro de 2015

O ciúme, q.b.








"Dizem por aí que uma pitada de ciúme faz bem. Não duvido disso. Na medida certa, o sentimento pode esquentar o relacionamento. Um pouquinho de ciúme revela cuidado, desejo, vontade, querer… Mostra que não quer perder, que se importa, que o outro é o seu bem maior.
Entretanto, diferente do ciúme existe a desconfiança. E a desconfiança não faz bem. Afasta, separa.
A desconfiança pode surgir por dois motivos. A primeira, quando o parceiro tem um comportamento que gera o sentimento. Ou seja, dá ou deu motivos. Quem sabe já tenha sido infiel, vive um relacionamento desapegado, perdeu o interesse em algum momento do romance. O segundo motivo é de ordem particular. Muito pessoal. Está na cabeça do desconfiado. Pode até ter uma razão externa: ter sido machucado, traído noutro relacionamento, por exemplo. Entretanto, não tem a ver com o parceiro atual. Não se curou. A insegurança é dele.
Esse sentimento é bastante perigoso. Geralmente, gera brigas, enfrentamentos e muita mágoa. O alvo da desconfiança pode fazer tudo, tentar mostrar-se confiável, fiel, mas nada põe fim ao problema. O sentimento está ali, corroendo a ambos. Os dois sofrem.
Outras vezes, a desconfiança se dá de maneira silenciosa. Pode não haver o confronto, mas existe a vigia constante. O desconfiado sente necessidade de ter as senhas do email, facebook, twitter e todas as redes sociais. Quer ver o extrato bancário. E o celular é objecto de constantes “investigações”.
Com ou sem brigas, a vítima sente-se acuada. Aos poucos, entristece e, por mais que ame o outro, vai se afastando. Passa a viver tenso, começa a ver fantasmas; acorda no meio da noite assustado. Tem medo até de si mesmo. Da pior maneira, descobre que não há graça naquelas crises. No início, talvez, até se sentia bem com as discussões motivadas por tanto “cuidado”. Entretanto, o tempo acaba roubando o “encanto” do que parecia ser inofensivo e revela o monstro da desconfiança que envenena o romance, tira a paz, a segurança, a felicidade do relacionamento.
Relacionamentos são baseados na confiança. Quando o laço é quebrado ou não existe, dificilmente se sustentam. Ainda que haja o desejo de tentar, de investir, enquanto houver dúvida, não haverá espaço para um amor pleno."
Ronaldo Nezo, jornalista, especialista em Psicopedagogia, no Brasil

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