De uma palestra feita em Santarém, 1993 - a convite dos Rotários
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Apetece-me dizer, com em palestra anterior, que se me virou o cata-vento para a Venezuela, igualmente, ganha-pão de muitos milhares de primos nossos. De 1966 a 1990, 58 494, imagine-se! Escalabitanos, 653, rezam as análises estatísticas disponíveis.
Uma comunidade de gente quase toda bem instalada na vida, é o que me pareceu, nas duas vezes que a visitei. Apesar de tudo, hoje, uma comunidade assustada, ao que julgo saber. Caracas, por exemplo, é uma cidade para genre rija... Lembro alguma: José Rodrigues Ferreira, natural da Madeira, que, em terras de Bolívar, de "botone" chegou a "maitre" de hotel e, mais tarde, a proprietário de um dos melhores restaurantes da capital venezuelana; António Alves Moreira, comendador da Ordem do Infante D. Henrique, que, de operário na construção civil, subiu a granadeiro e sócio de um banco; António Leite, pintor de artes plásticas, que se orgulha de, com a 25 de Abril, não ter mudado as tintas com que pinta; Tina Nunes, querida amiga, igualmente pintora, grata ao acolhimento que recebeu na Venezuela; Maria Helena Velosa, a catedrática de Direito Penal, que a América Latina reconhece; Agostinho Macedo, patrão de uma vasta rede de supermercados, em especial, na capital caraquenha; Álvaro Clemente, alfaiate de presidentes, amigo do falecido Cantinflas, de Raúl Solnado e de Mário Soares, cronista nos tempos livres e proprietário de um belo Rolls-Royce, em que faz questão de transportar os clientes e amigos mais ilustres que lhe telefonam - para uma visita ou um jantar...
Minhas Senhoras e meus Senhores
Desfocadas ou não, as fotografias que vos tenho mostrado são a cores. É altura de, por instantes, penetrar no universo do preto e branco: eis, pois, "à la minute", o nosso retrato na África do Sul.
Primeira imagem: no já assinalado período de 1966 a 1999, foram para aquele país 12 602 portugueses, idos do Continente ou das Ilhas. De Santarém, partiram somente 358. E, se o Pinto não é Minto, fixaram-se em terras do "apartheid" em liquidação, entre 1975 e 1980, por ano, escassas centenas de compatriotas nossos, continentais e ilhéus. As estatísticas a que tive acesso não referem as saídas de Moçambique rumo àquele país...
Segunda imagem: em 1966, abalaram, daqui para a África do Sul, 4 721 pessoas. Mais recentemente, a fazer fé em números provisórios, instalaram-se por lá: em 1989, 4 emigrantes; em 1990, 27.
Terceira imagem: assalta-me a história desconfortável, ao arrepio do que se diz, de um português, dono de hotel, em Joanesburgo, perfeitamente integrado como os demais, noutro qualquer cú de Judas:
- Quantas pessoas trabalham neste hotel? - perguntei, disposto a elogiar o movimento e a convivência racial.
- Vinte! - respondeu-me sem rodeios o luso "boss".
- Vinte?... Só?... - insisti.
- Sim, vinte brancos...
Adiante. Talvez a excepção confirme a regra - ou fale de assimilação..."
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