sábado, 26 de fevereiro de 2011
Falemos de desassossego
Fernando Pessoa não é para aqui chamado. O desassossego dele era outro, talvez por definir completamente, mas sem ter a ver com golpes bolsistas...Pelo menos, nos moldes em que os conhecemos agora. Vejamos, de listas várias, alguns temas anotados (para abordar?) pelo poeta desassossegado:
. Na Floresta do Alheamento
. Viagem nunca feita
. Intervalo doloroso
. Epílogo na Sombra
. Nossa Senhora do Silêncio
. Chuva de Oiro (Bailado. O Último Cisne. Hora Trémula.)
. Litania da Desesperança
. Ética do Silêncio
. Idílio Ilógico
. Peristilo
. Apoteose do Absurdo
. Paisagem de Chuva
. Glorificação dos Estéreis
. As três Graças (A Coroada de Rosas. A Coroada de Mirtos. A Coroada de Espinhos)
Portanto, aparentemente, pelo menos, nada de "golpes bolsistas"... Hoje, porém, o desassossego é geral. E mexe com o pãozinho. Mais do que nunca, dizem os entendidos. Recuemos, apesar de tudo, a 1776. Sim, a mil setecentos e setenta e seis, à Declaração da Independência norte-americana. Está lá o essencial - ou quase (os batoteiros, esses, confirmou-se mais tarde, vivem num mundo à parte, entre os selvagens do capital e os outros agarrados às massas, que se alimentam do disfarce...). Daí o contemporâneo desassossego. Que, se a União Soviética fosse viva, servia de desculpa ("cerco ao Ocidente", etc), mas não é - e, disfarçando como pode as suas dificuldades, está também à rasca.
Por outras palavras, que o espaço aqui, para ser lido, tem que tentar ser breve na gramática: para além de termos que resolver o problema dos loucos que fomos consentindo (os maiorais sabiam. Não me digam que foram apanhados de surpresa ...), temos agora que aceitar a luta intestina dos do petróleo que, nesta altura, estão a chegar a... a 1776.O que é, de facto, um desassossego.
Da Declaração de Independência norte-americana:
"Cremos que todos os homens foram criados iguais; que o Criador lhes conferiu certos direitos inalienáveis, entre os quais o de vida e felicidade e o de procurarem a própria felicidade;
que, para assegurar esses direitos, se constituiram entre os homens governos cujos justos poderes emanam do consentimento dos governados;
que, sempre quando qualquer forma de governo tentar destruir esses fins, assistirá ao povo o direito de mudá-lo ou aboli-lo, instituindo um novo governo, cujos princípios básicos e organizações de poderes obedeçam às normas que lhe parecerem mais próprias a promover segurança e felicidade gerais."
E nisto estamos. Um desassossego... Que há-de uma pessoa fazer?!...
Alheamento? Impossível! Estamos cada vez mais perto uns dos outros.
Viagem nunca feita? Como? A NET só não chega a parte da China e arredores...
Intervalo doloroso? Paciência!... O importante é que o aproveite para satisfazer as necessidades inadiáveis, pelo menos...
Epílogo na sombra? Isso, não. Só nos países tropicais.
Nossa Senhora do Silêncio? Gosto mais da Cova de Iria, onde podem cantar todos.
Chuva de oiro? Venha ela, sobretudo onde faça mais falta.
Litania da Desesperança? Nunca!
Ética do silêncio? Só onde ele for de ouro...
Idilio Ilógico? Alguém pensou no casamento do Capital com o Trabalho?...
Peristilo? Para eventuais voluntários do bem. Mas dispensável.
Apoteose do Absurdo? Podia ainda ser pior, mas esperamos que, no mínimo, não surjam mais golpistas financeiros...
Paisagem de chuva? Deus nos livre...
Glorificação dos Estéreis? Mais primeiros-ministros a armar ao social?...
As Três Graças? A de Espinhos, não. Já temos e é uma des graça...
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