LISBOA, ruadojardim, junto ao coreto ...
Se uma rosa por aqui nascesse,
Eu me sentiria perder
Como se minh'alma morresse
No Outono, ao entardecer.
Se uma rosa por aqui nascesse,
Em qualquer sábado a haver,
Dava-lhe o cravo que viesse
A seu lado, a acontecer
Se uma rosa por aqui nascesse,
Nesta Praia, à beira rio,
Talvez as mágoas sofresse
Sem queixumes, mesmo ao frio.
Se uma rosa por aqui nascesse,
Toque mágico, minha mão,
Fugia p'ra que não ouvisse
Quem lhe apontasse um senão
Se uma rosa por aqui nascesse,
Foita, bela, livre, vivaz
Voltava a viver, se quisesse
Que o mundo não volta p´ra trás
Se uma rosa por aqui nascesse,
E de orvalho se regasse,
Talvez Cupido acontecesse
E em botão a libertasse
Se uma rosa por aqui nascesse.
E certo beijo a acordasse,
Talvez p'la manhã a colhesse
E, p'la noite, recitasse
Se uma rosa por aqui nascesse,
Formosa como as d'Isabel
Talvez de Coimbra viesse
Qualquer milagre em papel
Se um rosa por aqui nascesse
P'ra marca de livro à espera,
Plantava mais, p'ra que houvesse
Sempre, sempre uma quimera
Se uma rosa por aqui nascesse,
Pão e vinho de Cardeais
Talvez Gonzaga não vivesse
Neste Portugal do Jamais.
Se uma rosa por aqui nascesse,
Vermelho-veludo, ou não
Cortava-a rente, bem cerce,
Bem junto do teu coração.
Se uma rosa por aqui nascesse,
Poema da terra a cantar
Talvez a palmeira morressse
Na floresta, olhando o mar.
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