Chegado ao escritório (1951), fresco de escola, que, aliás, continuei a frequentar à noite, a primeira pergunta que me fizeram, depois das apresentações, foi: sabes somar? Lembro-me muito bem da surpresa com que recebi a pergunta, mas também não me esqueço da "prudência" com que não respondi à duvida do meu novo colega. Fiz bem. Ele pretendia saber se eu estava, ou não, habilitado a somar à máquina... Claro que não estava. Mas fiquei de pé no ar para a diversão que se adivinhava... Dias depois, puseram-me, então, frente a uma calculadora que teria de comprimento mais de meio metro e fazia as operações elementares todas graças ao manuseamento adequado de uma manivela que tinha à direita e que, rodada com destreza, dava rapidamente, por exemplo, quantos eram 9 x 9 - e outras "habilidades"... "Que maravilha!"..., pensei eu, que vinha da velha ardósia e da necessidade de saber o essencial de cor e salteado...
Depois, depois o progresso tomou conta de mim: se queria aumento, no fundo, tinha que revelar desembaraço na calculadora comprida e ... e noutras (recordo, por exemplo, uma FACIT, mais pequena do que uma caixa de sapatos de criança...). Os grandes heróis, contudo, nessa altura, eram os que conseguiam somar, sem máquina, colunas de números de três e quatro algarismos em colunas manuscritas de um metro de altura e/ou de largura, que haviam de conferir com o total mensal (lateral e vertical) do expedido para os diferentes agentes em todo o país.
Entretanto, os anos passaram, apareceu a IBM a alugar os seus computadores e lá fui eu, de bata branca, para a chamada Mecanografia. Foi a época do cartão perfurado.
Com efeito, havia uma perfuradora, uma separadora e uma tabuladora. Três máquinas a requerer curso fora de portas. Fui mau aluno... 60 e poucos por cento foi a média obtida depois de semanas de lições externas. Fiquei por aí: orelhas de burro, ao lado de um colega que, não dormindo para rentabilizar o equipamento (alugado. A IBM não vendia), trabalhava dia e noite e ... e assim morreu esquelético, tuberculoso...
Nunca mais quis saber destas gerigonças... Nem mesmo, quando, "por amabilidade", disse sim a um curso básico sobre computadores. Novo falhanço!...
Mas, então, agora - aqui?... Claro, AGORA e AQUI - sim! Porque ninguém me "obrigou". E porque o saber é feito como, nomeadamente, ensinava o Prof. Agostinho da Silva. Isto é, correspondendo a perguntas. A necessidades sentidas. Não há manuseamento de máquinas a 400$00 de salário por mês, nem tabuladoras ao cronómetro. Há computador portátil aprendido, no essencial, para brincar... E isso fá-lo, bastas vezes, divertido, digo eu, que nasci a comer giz...E hoje me acho aqui a folhear a história dos computadores electrónicos. Que me fascinam - como os tigres no Jardim Zoológico, de que me aproximo... Cautelosamente. Para escrever estas coisas que, se não divertem, me divertem. E, acho eu, fazem excelente companhia quando manuseados num banco de jardim, como é o caso, sobretudo, num dia lindo como o de hoje, em que, como diria Vergílio Ferreira, apetece falatar.
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