Ponto Final | Dezembro 3, 2014 às 11:10 am | Categorias: Uncategorized | URL:http://wp.me/pu3KH-9edÉ preciso recuar até 1999 para ver um Executivo a tomar posse com tantos rostos novos – e para ver governantes tão conhecedores de Macau a deixar o poder. O que vão fazer? Qual será o papel na sociedade de Florinda Chan, Francis Tam, Cheong Kuok Va, Lau Si io e Cheong U agora que estão de saída?
Patrícia Silva Alves
Será a maior mudança de cadeiras nos 15 anos de história da RAEM. De uma só vez os cinco secretários vão abandonar o poder e com eles as suas equipas. É por isso natural que depois de se conhecerem as caras dos substitutos de Florinda Chan, Cheong Kuok Va, Francis Tam, Lau Si Io e Cheong U que ontem começaram a inteirar-se das suas pastas, as conversas de café dos funcionários públicos girem em torno de dúvidas tão simples como: “Onde é que novos secretários se vão sentar nos próximos dias?”
“Todos eles vão começar a trabalhar agora. Para onde vão? Para os gabinetes dos secretários ou ficar na sede do Governo até 20 de Dezembro?”, questiona-se um funcionário público ao PONTO FINAL. Mas para além da questão espacial há ainda outra questão a esclarecer (e que também é tema de conversa dos funcionários da Administração): para onde vai a antiga equipa de Chui Sai On?
Há para já uma certeza entre os cinco secretários: Cheong Kuok Va vai reformar-se, confirmou fonte oficial do seu gabinete ao PONTO FINAL.
Depois de 39 anos na função pública, 15 dos quais como secretário para a Segurança, Cheong Kuok Va vai aproveitar agora para “passar mais tempo com a família”.
A colega Florinda Chan, actual secretária para a Administração e Justiça, deverá seguir-lhe o exemplo e pedir a reforma, segundo várias fontes contactadas pelo PONTO FINAL. Aos 60 anos e com 40 dedicados à Administração Pública, Florinda da Rosa Silva Chan deverá gozar, numa primeira fase, um período de descanso e, depois, deverá dedicar-se às questões ligadas à Igreja, aos assuntos sociais e eventualmente fará aconselhamento ao Governo, mas apenas se essa ajuda for requisitada, acredita uma das fontes.
“Florinda Chan tem contactos privilegiados com o Vaticano e está muito ligada à estrutura da Igreja”, acrescenta outra pessoa que não se surpreenderia que a ainda secretária tivesse um papel no restabelecimento das ligações entre a China e o Vaticano, ainda que de forma informal.
Para fechar o grupo dos três secretários que têm tantos anos de Governo como Macau de RAEM está Francis Tam.
O actual secretário para a Economia e Finanças poderá eventualmente voltar ao sector privado, de onde saiu para assumir a pasta no Executivo em 1999. Antes de fazer parte do Governo da RAEM, Francis Tam teve experiência profissional nas áreas da indústria têxtil, logística, comércio e no investimento imobiliário.
“Alguns secretários já têm a possibilidade de pedir a reforma ou a reforma antecipada, mas no caso de Francis Tam [que não era funcionário público] é preciso ver como é que vai lidar com o seu papel. Claro que, com base na lei, não vai ser autorizado a ir logo para o sector privado”, lembra Eilo Yu, politólogo e coordenador da licenciatura de Governo e Administração Pública na Universidade de Macau.
Segundo as normas de conduta dos titulares dos principais cargos da RAEM, os ex-governantes “estão impedidos de exercer qualquer tipo de actividade privada pelo período de um ano a contar da cessação das respectivas funções” e ainda assim durante os dois anos seguintes só poderão trabalhar no sector privado com a autorização expressa do Chefe do Executivo.
Com um conhecimento profundo do apetecível sector dos casinos que esteve sob a sua alçada nos últimos 15 anos, Francis Tam não deverá, no entanto exercer nessa área, acredita o também politólogo Éric Sautedé.
“Penso que de certa forma será forçado a não participar em actividades relacionadas com o sector do jogo, sobretudo numa altura em que todas as licenças de jogo vão ser renovadas [expiram entre 2020 e 2022]. Penso que haveria um claro conflito de interesses”, defende Sautedé.
Participação pública limitada
Quanto aos secretários que deixam o Governo ao fim de um mandato – Lau Si Io e Cheong U – ambos têm expectativas diferentes quanto ao seu futuro.
Ainda antes de se saber que ia deixar a pasta dos Transportes e Obras Públicas, Lau Si Io já tinha referido aos jornalistas que “eventualmente” iria voltar ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), de onde saiu em 2009.
Menos claro está o futuro de Cheong U. Em resposta ao PONTO FINAL, o ainda secretário para os Assuntos Sociais e Culturais referiu que esta “não é a altura para falar” sobre o seu futuro porque “não há nada certo até ao momento”.
Quando confrontado com a informação avançada ao PONTO FINAL de que uma das possibilidades seria a Fundação Macau, fonte oficial do gabinete de Cheong U limitou-se a responder por e-mail que não pode confirmar nenhum cenário.
Mas apesar de por agora haver mais dúvidas que certezas quanto ao futuro dos ex-secretários, Éric Sautedé assinala que entre os que agora deixam o Governo não se espera que tenham uma voz atenta e ouvida como a de Susana Chou, antiga deputada e presidente da Assembleia Legislativa.
“Não penso que se possa repetir o mesmo que aconteceu com Susana Chou pois ninguém tem a legitimidade que lhe é atribuída. Não os consigo ver numa posição de sábios. Para mim ela é a única que o poderia ter feito e o facto de o ter escolhido fazer, e continuar como uma sábia e ter um olho preciso, é algo excepcional para Macau”, avalia Éric Sautedé.
Sem comentários :
Enviar um comentário