O escritor brasileiro foi distinguido por explorar com mestria, através da linguagem, “a complexidade das relações humanas em planos dificilmente acessíveis a outros modos do discurso”. A escolha do júri, do qual faz parte Inocência Mata, professora da Universidade de Macau, foi tomada por unanimidade.
"O escritor brasileiro Raduan Nassar é o vencedor da edição de 2016 do Prémio Camões, foi anunciado ao final da tarde de segunda-feira, em Lisboa, numa conferência de imprensa que contou com o secretário de Estado da Cultura do Governo de Lisboa, Miguel Honrado.
"Através da ficção, o autor revela, no universo da sua obra, a complexidade das relações humanas em planos dificilmente acessíveis a outros modos do discurso. Muitas vezes essa revelação é agreste e incómoda, e não é raro que aborde temas considerados tabu. Essa possibilidade dá-se no uso rigoroso de uma linguagem cuja plasticidade se imprime em diferentes registos discursivos verificáveis numa obra que privilegia a densidade acima da extensão", lê-se na justificação do júri. A decisão do júri foi tomada por unanimidade.
O secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, que anunciou o vencedor, disse que o premiado reagiu "com surpresa" à distinção, e que a acolheu com o "maior agrado e com orgulho". A editora Cotovia, que publicou o autor, em Portugal, considera-o "um dos maiores escritores das letras brasileiras, originalíssimo autor de uma obra muito reduzida e depurada", que se estreou em 1975, com "Lavoura arcaica", que foi adaptada ao cinema, assim como a novela "Um Copo de Cólera", de 1978.
Raduan Nassar nasceu em Pindorama, Estado de São Paulo, em 1935, descende de uma família libanesa, estudou Direito e Letras na Universidade de São Paulo, onde concluiu a sua formação académica em Filosofia.
O comunicado do Ministério da Cultura, que anuncia o prémio, destaca Nassar como "autor de uma obra de intervenção, promovendo uma consciência política e social contra o autoritarismo, comparado a nomes consagrados da literatura brasileira, como Clarice Lispector e João Guimarães Rosa, graças à extraordinária qualidade da sua linguagem e da força poética da sua prosa".
A Cotovia publicou em Portugal, a colectânea de contos "Menina a caminho", de 1997. Com a obra traduzida em várias línguas, Raduan Nassar fez parte, este ano, da lista inicial do MANBooker International Prize, com a tradução de "Um Copo de Cólera".
O júri desta 28.ª edição do Prémio Camões foi constituído pela professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Paula Mourão, pelo escritor português Pedro Mexia, pela escritora e professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Flora Sussekind, pelo escritor e professor da Universidade Federal de Minas Gerais Sérgio Alcides do Amaral, pelo reitor da Universidade Politécnica de Maputo, Lourenço do Rosário, e pela professora da Faculdade de Letras de Lisboa e da Universidade de Macau Inocência Mata, natural de S. Tomé e Príncipe.
O Prémio Camões, no valor de 100 mil euros, foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988, e atribuído pela primeira vez em 1989, ao escritor Miguel Torga. No ano passado, foi distinguida a escritora portuguesa Hélia Correia."
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quarta-feira, 1 de junho de 2016
MACAU: Raduan Nassar é o vencedor do Prémio Camões 2016
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