sábado, 18 de junho de 2016
TORTOSENDO: sinal exterior do tempo negativo que passa
Os pais, fiéis aos pais, por sua vez, fiéis aos avós, cuidam da casa (modesta embora) na aldeia ou vila longínqua a que todos se vão dando, na esperança de que assim acabará presente na família que se segue, e na outra que virá depois, e na que a esta sucederá... Mas ... mas a vida é traiçoeira e, de repente, quebra, por morte, ou por descalabro social, não raro, o elo sonhado décadas antes, antes, por exemplo quiçá, de uma reforma agrária, ou de uma reforma industrial, ou de mortes prematuras. E o espectáculo, difícil de aceitar, "no fim de contas", acaba por ser a imagem do descalabro, da queda, da ruína, de um sonho desfeito.
Visite-se, por exemplo, o Tortosendo, a dois passos da Covilhã, e, com vagar, olhe-se à volta e observe-se o que aconteceu à vila: ladeiam a estrada principal que acolheu fortunas, restos, esqueletos do que foram sonhos ... que ficaram pelo caminho. Há vidros partidos, paredes com gangrena, interiores-lixeira, restos de tudo: NADA. Nem sinais de recuperação.Nem de hipóteses de respeito pelo que resta, porque morreu quem tudo, por certo, AMOU.
Mas se fosse só o Tortosendo ... Se fosse assim só uma década e num único local, mas não: reedificar, retomar, reviver, SER E ESTAR é difícil. Por razões financeiras, dir-se-á ... Talvez, mas, sobretudo, por DESAMOR, por obediência ao mal da pressa, por desrespeito pelo amor intergeracional, sobretudo. É a vitória do mais fácil, do imediato. Em três palavras: incapacidade de amar, sobretudo.JÁ, AGORA, ONTEM.
Amanhã, não! É tarde e a vida é curta ...
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