segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Agostinho da Silva * - e o tempo presente

"(...) Numa cidadezinha americana um tipo meteu-se num táxi e de repente apercebeu-se de que se tinha esquecido da carteira, mas como estava um banco perto, ele foi lá para levantar dinheiro. Mas ouviu o seguinte, do caixa:

- Tenho muita pena mas, de seu, no banco, só há uma memória no computador. Dinheiro para você pagar o táxi não tenho. - É o que vai suceder na América. Já faliu aquele banco no Illinois, tiveram os outros bancos que ir à pressa socorrê-lo. Então se se pensar que vai falir todo o sistema financeiro e de trocas internacionais ...

- Há uma guerra?...

- Não é fatal que haja. Quem me parece que deu a receita para situações destas foi S. Bento, que um dia disse: - Esta coisa está mal e vai durar muito tempo. Mas eu não quero ir já para o céu ... Como em Roma não dá, vou para um lugar onde haja terra, na terra vou criar um bicho e uma couve e com isso me amanho. - Ele era um patrício romano, um homem de cultura, por isso levou uns livros que eram manuscritos, foi com uns amigos e todos entretiveram-se a copiar os livros. O resto do tempo passavam-no cantando, recitando, rezando e dizendo uns para os outros: - Aguenta-te, olha que o mundo não acaba, porque não se percebe na metafísica que acabe. Esta pode ser uma boa receita para nós ... E quando estivermos melancólicos, chegar um sujeito e dar aquele conselho que um psiquiatra de Viena tinha na parede: "Levante os cantos da boca!" - Porque não é possível a uma pessoa estar com os cantos da boca levantados e ao mesmo tempo deprimida. Tem  fatalmente que rir."

* 1984/1985 in Grande Reportagem, com Joaquim Furtado.

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