quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Joanesburgo

Das dezenas de cartas que, estando, às vezes, do outro lado do mundo, se escrevem, o que sobra são, em regra, lamechices datadas. Estamos, no caso, em 1980. Dei agora volta ao escrito de lá para cá, e de cá para lá e ... e "está tudo a correr bem" é, naturalmente a frase mais repetida. Mas ... mas há uma carta datada, exactamente, de 11 de Abril de 1980 (aqui só o ano pode ter algum significado), que, escrita a partir de Joanesburgo, sublinha a dado momento, o seguinte:

"(...) Encontro-me no 25º andar, no quarto 2519, com bela vista para as minas de ouro. A cidade em si é lavada, tem edifícios altos, mas predominam os rasteirinhos. (...) Depois das cinco da tarde não se vê ninguém na rua e há um clima de medo em relação aos negros. O racismo aqui é um facto. Não raro se encontram, por exemplo, retretes para brancos e retretes para pretos. Quando se pergunta quantos empregados tem determinada firma, na resposta só são indicados os brancos. Para os portugueses isto é chocante. Ou melhor: para os que, como eu, vêm de Portugal. Mas é assim. Há um clima de extrema-direita que receio, mais tarde ou mais cedo, venha a dar bronca ..."

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