Para Helena de Vasconcelos, a quem "invejo" saberes e paciência e desejo uma participada, e renovada, Comunidade de Leitores, na CULTURGEST - a dedicar ao Riso e ao Esquecimento
Pelos ausentes, de Guerra Junqueiro:
Como hei-de ser um Petrarca,
Cantar como um rouxinol,
Se o meu termómetro marca
Quarenta e dois graus ao sol!
A musa foi-se-me embora;
Para onde já não me lembro;
Só a torno a ver agora
Lá para os fins de Setembro.
Deixá-la andar lá dois meses
Colhendo imagens e flores,
Para espanto dos burgueses
E ruína dos editores.
Não peças mais versos, não!
Não faças que eu me zangue;
A teta da inspiração
Ordenho-a ... e já bota sangue.
Deixa-me estar sossegado;
Eu a luta abandonei-a;
Tive baixa de soldado,
E vim viver para a aldeia.
Tenho a existência pacata
Dos grandes bonacheirões;
e arrumei a um canto a lata
Com que eu fabrico os trovões.
E, farto de ver abrolhos,
E de ter desassossegos,
Deixo pastar os meus olhos
No azul - como dois borregos.
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