segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Mentir

"(...) A beleza de uma flor não prova a do vaso em que floresce".


E o contrário também é verdade, não é Vergílio Ferreira? A mentira também está aí: nascida, às vezes, no seio do vaso com boa terra, boa rega, cuidados intensivos.Ou, se calhar, por isso mesmo. Criou-se como que o prazer, quase sádico, da mentira, não da peta, que é ligeira, mas da MENTIRA, com todas as sílabas. Vinda, às vezes, de onde menos se espera.


No fundo, é assim que nascem as guerras. Assinam-se tratados, que se negam. Fazem-se juras que não se cumprem. A estranhos, a conhecidos, a amigos, a irmãos. Chegada a altura, instala-se a MENTIRA e não há nada a fazer. Ficam os países a pensar em guerras em que nunca tinham pensado.Admitem as populações protestar e guerrear se necessário. Decidem os amigos, as famílias deixar de conviver. E instala-se o desconforto, quase a guerra. Em segredo, primeiro; depois, depois de forma ... aberta até ... até que haja, por exemplo, um funeral que "toque" os desavindos - e tudo, na aparência, pelo menos, volta ao princípio.


E assim se vive. No risco da solidão - que é uma forma de, teoricamente, viver em paz. Em tudo. Com o velório, entretanto, transformado numa espécie de ONU, presidida pelo morto. A menos, claro, que haja bens a, posteriormente, distribuir ... Então, lembra-me aquela cantilena dos tempos da Primária: " ... e quando tudo estava em paz e já ninguém se lembrava, aparece no pátio um rapaz a vender castanha assada ... Eu não sei lá o que ele fez, mas desatou tudo a berrar ...Veio a Zefa do Carricho, o Zé Barbeiro e o filho, foi tamanho o reboliço que andou tudo num sarilho ..."

É isto. Se queres a verdade, prepara-te para a mentira. É ela que, no fundo, nos governa - de desilusão em desilusão. Ou de hospício em hospício - a dizer sim à droga. A dizer sim a Londres, a dizer sim à Noruega. E à maior parte das guerras que o mundo conhece. Valha-nos, entretanto, mais do que os funerais de efeitos precários, em que o morto faz o que pode, a cenoura que, burros, não raro, nos põem na ponta de uma vara comprida, entre orelhas, para nos alimentar a esperança de uma refeição em paz ... Longe de outros burros, claro.

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