O CENSO popular

Papéis velhos, a pedir re publica ção:

"Farto, fartíssimo das constantes exortações ao trabalho e das incessantes campanhas para aumento da produtividade nacional com que a Imprensa, a Rádio e T.V. nos bombardeiam diariamente, resolvi fazer a mim mesmo esta pergunta:

Mas quem, afinal de contas se trabalha neste País?


E cheguei às seguintes conclusões:


As estatísticas oficiais indicam que...


-a população da Metrópole é de DEZ MILHÕES,
-o número de pessoas com mais de 65 anos é de TRÊS MILHÕES,
-restam para trabalhar SETE MILHÕES.
-o número de pessoas com menos de 16 anos é de QUATRO MILHÕES,
-restam para trabalhar TRÊS MILHÕES.
-os funcionários públicos são em número de UM MILHÃO,
-restam para trabalhar DOIS MILHÕES.
-o número de agentes intermediários é de OITOCENTOS E CINQUENTA MIL,
-resta para trabalhar UM MILHÃO CENTO E CINQUENTA MIL.
-o número de militares é de DUZENTOS E CINQUENTA MIL,
-restam para trabalhar NOVECENTOS MIL.
-o número de directores-gerais, hospitalizados, alienados, vagabundos, cauteleiros, oportunistas e similares é de OITOCENTOS MIL,
-restam para trabalhar CEM MIL.
-mandriões, detidos, deputados e polícias NOVENTA E NOVE MIL NOVECENTOS E NOVENTA E OITO,
-restam para trabalhar DOIS.


E quem são esses dois?


Um sou eu, o outro é você. Creio que isto deve ser para nós dois um estímulo, um sinal para que redrobemos de energia e de determinação.


Temos, portanto, que trabalhar. E trabalhar muito! Sobretudo você, porque eu estou-me nas tintas para fazer sozinho o trabalho do País inteiro."