"O 25 de Abril trouxe-nos liberdade? Trouxe? Pois então utilizemo-la: isto está uma ... uma calamidade (...). Está tudo doido: fala-se em educação para todos e parece que cada vez há mais elitismo; discursa-se diariamente sobre o direito à habitação e cresce o número dos que não têm uma casa decente para morar; legisla-se sobre trabalho e aumenta o desemprego; apregoam-se novos tempos no combate à corrupção e toma-se consciência de que ela é hoje talvez maior do que nunca; escreve-se, a torto e a direito, sobre saneamento financeiro e outro, e quase tudo cheira progressivamente mais a podre... Reina, finalmente, um pouco por toda a parte, a confusão e a anarquia.
(...) Está a perder-se, em cada dia que passa, a noção dos limites: começamos a chamar sério ao que há pouco considerávamos rondar a vigarice; rouba-se impunemente; instalou-se, e promete continuar, um clima de desconfiança entre os portugueses e até a família sofre em Portugal um apertão maior do que seria normal, face à natural evolução da humanidade.
Estamos, na verdade, em crise. Nós mais do que os outros, de quem, em regra, consideramos, por incapacidade própria, virem todos os males.
Somos hoje uma república do Norte de África que o mar, no seu incessante irrequietismo, encostou ao continente europeu.
(...) Agora que estão na moda os contratos a prazo é altura de, aproveitando a facilidade, exigirmos competência ou mudança de ... dirigentes. É tempo de balanço. Ou se não é, está para breve. Preparem-se gentes da política: a hora do juizo final aproxima-se. Mas já agora aproveitem em vosso/nosso favor, ao menos, as presidenciais... Não perdíamos tudo..."
* in "A Tarde", de 12.01.1984
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