sexta-feira, 27 de março de 2015

De Goa via Travessa do Ferreira (Antunes)


Meu Caro A.F., folgo em saber-te SALVO e ouso, em tua homenagem, trazer-te para aqui - também por essa Goa, da minha grande saudade, vista pelos olhos de que tem razões acrescidas para a amar. Um grande abraço e ... e lá vai, Vizinho, na TRAVESSA que acabo de rever:


Antunes Ferreira
"Para quem me conhece não me parece necessária
a salvaguarda que deixo aqui: peço o subido obséquio
que não pensem que estas crónicas resultam
de intenções neocoloniais. Nunca fui saudosista
 dos tempos do antigamente;
não seria agora, a caminho dos 74 anos
que isso aconteceria…
P

elas ruas de Pangim, que começo a conhecer mais do que alguns naturais (ia escrevendo indígenas, mas meti travões às quatro rodas, ainda que o fonema signifique isso mesmo, porém por cá pode ser depreciativo…) da terra, vou confirmando o que já descobrira há muitos anos. Mas, para lá chegar, deixem-me que vos conte uma estória que me aconteceu no princípio da semana. Curiosamente tenho de dizer que não contava com ela, mas elas acontecem quando menos se espera. E, assim, têm mais sabor, digo eu.

 
Comida mesmo goesa
T
ínhamos almoçado no George na praça da igreja catedral que já está engalanada pois vêm aí a Semana Santa. O restaurante para mim é o melhor da capital onde se come cozinha goesa genuína, embora noutros também se encontre, mas um tanto adulterada pelos que vindos de outros Estados da Índia emigraram para Goa. Um caril à maneira goesa, um vindalho, um sarapatel, um balchão e outros têm um sabor absolutamente diferente das restantes cozinhas indianas que são muitíssimas


R
etomo a estória. Na primeira esquina do jardim Garcia de Orta, antes de se chegar ao hotel Sri Punjab, que tem um restaurante onde pontifica a comida punjabi de seu nome Aroma (nada tem que ver com a nossa palavra), um casal europeu com sacos de compras, Nikon pendurada do pescoço do homem perguntou-nos em francês que língua falávamos, ao que lhes respondi que falávamos Português, pois éramos de Portugal, mas que, na realidade, a Raquel era goesa.



F
oi um encontro de uns quinze minutos, mas muito interessante. Os franceses Marcel e Pauline Combatt vinham do Estado de Karnataka e tinham descoberto que Goa era muito diferente, pois também tinham andado por Nova Deli, chegado ao Taj Mahal, (visita incontornável na Índia) viajado pelo Punjab, terra dos sikhs e dos Templos Dourado (imperdível) e Khajurhao 
Khajurhao até com animais
(visita igualmente indispensável por mor dos templos com figuras eróticas em relevo nas paredes exteriores, mesmo pornográficas, representando actos sexuais que até metem animais). Konark no estado de Orissa também é assim.


M
as Goa era diferente. Porquê? Expliquei-lhes a permanência dos Portugueses ao logo de quase cinco séculos por ali, falei-lhes das igrejas, capelas, catedrais, conventos e cruzeiros. E apontei-lhes a Papelaria J.M. Fernandes, dizendo-lhes que a loja tinha o seu nome em Português, o exemplo mais à mão dessa realidade. Nem pareciam descendentes dos irredutíveis gauleses Astérix e Obélix, pois eram muito simpáticos. Agradeceram-nos as informações e separámos com muitos abraços e beijinhos e combinámos um encontro quando fosse possível… Já os voltei a ver, mas como iam do outro lado da rua, não lhes acenei. Eles não nos tinham visto. Um dia jantaremos em qualquer parte do Mundo – se lá chegar…

Palácio do Idalcão


D
isse à Raquel que pretendia andar um bocadinho, pois fazia 34º mas há tempos que o não “marchava” (longe vai o tempo da tropa) e precisava de começar a desenferrujar as dobradiças. Fomos até ao Idalcão, antiga sede do Governo no tempo dos Portugueses. Estávamos no coração da Pangim velha a caminho do bairro das Fontainhas, e dei por mim em frente do Hotel República, assim mesmo com acento agudo. De supetão surgiu-me a ideia (cada vez mais estou um idiota…) de ir mirando lojas diversas para confirmar o que já sabia: muitas mantinham nomes portugueses.



T
arefa bem simples. Desde o Café Central até ao estabelecimento de tecidos Amaro Rebelo & Sons - antigamente era & Filhos – passando pelo Hotel Fidalgo que quantidade deles subsistia. Alguns exemplos em Pangim: Café Real, Café Nacional, Lembrança (com cê cedilhado) loja de souvenirs, para não falar da Farmácia Salcete (é o nome do distrito da Raquel que ali nasceu, mais precisamente na aldeia Raia, onde a família Melo tinha casa com capela e que é conhecida como capital do catolicismo), Hotel Palácio de Goa, de um mouro (como aqui se chama um muçulmano).

Instrumentos musicais

M
as, não me fico por aqui. A Barbearia Nova fica ali ao virar da esquina, o Hotel Mandovi em frente do estuário do rio do mesmo nome, com uma loja Pastelaria, a Barbearia República também, o Hotel Menino, a firma Pedro Fernandes & Co (Companhia) não podendo esquecer a Confeitaria Italiana a que já me referi no sportinguismo goês, prova de bom gosto futebolístico. Aliás por toda a mencionada Salcete (com o restaurante Nostalgia perto de Raia) digam-me lá se isto é saudosismo ou neocolonialismo? Não é. São apenas constatações feitas no seu lugar. Aliás Casas há muitas, tal como os chapéus... Por exemplo a Casa Shirodkar, em que o termo português está associado ao nome do proprietário goês. E que dizer da Casa Velho (da família Velho) de artigos diversos de decoração e outros, carotes. Pronto foi um percurso pequeno, mas a capital também não é grande…"




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