sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Do lido, o sublinhado (65) - A crítica em Plutarco

Um dito de Tucídides:
"Quando se realizam grandes desígnios, incorremos na hostilidade de outros". Do mesmo modo, um amigo pode correr o risco de desagradar com as suas censuras, quando o objecto delas é importante e inteiramente excepcional. Se, pelo contrário, ao optar por um tom menos próprio de um amigo e mais de um pedante, ele se fizer esquisito relativamente a bagatelas, os seus avisos nos momentos importantes perderão força e efeito, porque terá abusado da franqueza, à semelhança de um médico que recorre em caso de pequenas doenças a um medicamento acre e amargo, mas indispensável e caro, que só é administrado nos casos mais críticos. Ele portanto evitará cuidadosamente essa propensão para a censura. Se alguém, ao realçar as mais pequenas ninharias, quiser ver em tudo um crime, será para ele uma ocasião para repreender os erros mais importantes. O médico Philótimos disse um dia a um doente que padecia de um abcesso no fígado que queria mostrar-lhe um dedo cheio de pus: "meu amigo, não é no unheiro que reside o teu problema". Pois muito bem! Um amigo pode ter ocasião para dizer a um homem que ele aponta as culpas que são pouco importantes e que não têm peso: "de que falamos aqui, de asneiras, de bebidas e de bagatelas? Ele que mande embora, meu caro, a amante e deixe de brincar com a sorte. Quanto ao resto, achamos que ele é um homem excelente". Perdoar facilmente os pequenos erros é adquirir o direito de censurar os grandes sem que para isso cause desagrado. Mas aquele que, na condição de verdadeiro modelo de azedume e de amargura, realça tudo de uma forma escrupulosa e que não perdoa nada, torna-se um ser insuportável para os seus filhos, os seus irmãos, e torna-se um ser abominável até mesmo para os seus escravos."





























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