quinta-feira, 5 de novembro de 2015

MACAU - "Filhos de um deus menor"



by Ponto Final
1.PaisCentenas de mães e pais, residentes na RAEM, ocupam há duas semanas o Largo do Senado. Lutam pelo direito de trazer para junto de si os “filhos maiores” deixados há décadas no continente, quando a busca de trabalho e de um futuro os arrastou para as fábricas do território.    
"Vozes gritadas ao microfone dão conta, numa ladainha que não cessa, de dores acumuladas em décadas, como ferida que não fecha. Mães e pais, hoje de rostos sulcados pelo tempo, chegaram a Macau em dias de juventude, nos idos de Oitenta, numa fase em que o pulsar de vida empurra a coragem, enxuga as lágrimas e leva tudo à frente. Aos filhos que ficaram para trás, no Continente, entregues aos avós, nunca foi permitida a fixação de residência na RAEM, ainda que aos pais fosse entretanto concedida a residência permanente. Centenas destes progenitores mantêm-se, há 15 dias, no Largo do Senado, de pés fincados no chão como raízes, à espera que os gritos ecoem no Palácio da Praia Grande, à espera que o Executivo una esforços com o Governo Central e desbloqueie um dossier encravado na história recente do território, já apelidado de “filhos maiores”. E o coro de protesto, incessante, começa a surtir efeito. Esta sexta-feira, às três da tarde, serão recebidos pelo Governo.
Presidente e fundadora da Associação para a Reunião Familiar, Lei Iok Lan, chegou sozinha a Macau em 1989, destinada a integrar as fileiras de uma fábrica têxtil. Os quatro filhos ficaram na Zhongshan natal, mais tarde haveria de ir buscar o mais novo, então com 12 anos, e um outro haveria de falecer. “Vim apenas para trabalhar, ganhar algum dinheiro e regressar, ninguém pensou que o Governo português, nos anos 90, nos daria permissão a todos para ficar, como aconteceu em 1990”. Um ano depois de chegar, recebe, assim, “um documento especial” que lhe permite ficar. E ficou. Em 1996 é-lhe atribuído o BIR temporário e em 2002 chegaria o permanente. “Em 97, 98, o Governo lidou com o problema, permitiu às pessoas que tinham vindo anteriormente trazer os seus filhos para cá. Mas aos que vieram nos anos 90, eles adiaram a resolução do problema”. E por resolver está a situação de “2313 filhos adultos, de 1200 pais que vivem em Macau”, conta ainda Lei Iok Lan, líder de uma associação fundada há cinco anos e que integra 13 elementos. “O meu desejo é muito simples, se o Executivo não consegue resolver o problema, pelo menos que deixe o Governo Central ter conhecimento disto e tentar resolver, para que eu me possa juntar aos meus filhos”. Para a reunião de sexta-feira, a meta está traçada: “Queremos que o Governo crie uma equipa especial para resolver este problema, vamos ficar aqui até ver resultados”.
A história de Leong Lei Si, 66 anos, em muito se assemelha à da sua conterrânea. Chegou em 1983, também sozinha e para tomar acento frente às máquinas de estampagem de tecidos. Para trás, ficou um filho de três anos, que só voltaria a ver sete anos depois, em 1990. Criado pelos avós, tem hoje 35 anos e vontade de se juntar à mãe do lado de cá do Rio das Pérolas. “Não casou, pois disseram-lhe que seria mais fácil para os solteiros sem filhos virem para cá, mas foram sempre adiando”. Garante que não arreda pé do largo até ver a situação resolvida. “Vamos ficar aqui até termos uma resposta satisfatória”, assegura, ao seu lado, Lei Iok Lan. S.G. com W. S."

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