quinta-feira, 26 de abril de 2012

Canteiro de palavras XLVIII - Thomas Mann *

* in As Confissões de Félix Krull
















"A cultura não se obtém com um labor obtuso e intensivo e é antes o produto da liberdade e da ociosidade exterior. Não se adquire, respira-se. O que trabalha para ela são os elementos ocultos. Uma secreta aplicação dos sentidos e do espírito, conciliável com um devaneio quase total em aparência, solicita diariamente as riquezas dessa cultura, podendo dizer-se que o eleito a adquire a dormir. Isto porque é necessário ser dúctil para se poder ser instruído. Ninguém pode adquirir o que não possui ao nascer, nem ambicionar o que lhe é estranho. Quem é feito de madeira ordinária nunca se afinará, porque quem se afina nunca foi grosseiro. Nesta matéria, é também muito difícil traçar uma linha de separação nítida entre o mérito pessoal e aquilo que se chama o favor das circunstâncias. Se a sorte benévola não me tivesse, no momento preciso, transplantado para uma grande cidade, e não me tivesse permitido horas de amplo recreio, teria sido privado das vantagens que esses lugares de prazer e de educação concedem, e os meus estudos ter-se-iam limitado a ir espreitar de fora das grades desse jardim dos prazeres."

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