quinta-feira, 12 de abril de 2012

Excertos de cartas de pai 2 vezes ( 7 )


De uma carta escrita em 6 de Fevereiro de 2006:

"(...) Não sei se conheces a Capela da Academia Militar de Lisboa?!... Já agora é, dizem os especialistas, um templo privado, do princípio do século XVIII, "no estilo neoclássico, ainda com vestígios de um rococó tardio", a que o terramoto de 1755 terá feito grande mossa, e que "foi praticamente reedificado de raiz". Pois bem, fui lá ouvir um concerto: Mozart, Bach, Reger, Handel, Bocherinni, Genzner. Tocou a Camerata da Orquestra Sinfónica Juvenil que, no final, recebeu aplausos de pé.

A capela, que faz parte de um conjunto conhecido como o Paço da Rainha, situa-se ali próximo do Campo dos Mártires da Pátria. É de acesso fácil. Cheguei lá ido de Santo António dos Cavaleiros, rapidamente, no meu carro. Foi também simples estacionar, tanto mais que, mal entrei na rua (rua de ... rua ... Não me lembro ...), apareceu-me, de imediato, um arrumador, um arrumador daqueles que Lisboa, e não só, conhece bem: barba grande, selvagem, gorro queimado do sol, calças azuis, de tons vários, maiores do que as pernas, casaco quase até aos joelhos, qual mostruário de panos diversos, ténis com dedos à espreita e, por cima de tudo isto, um sorriso a sair inteiro e solicito de uma cara feita de sulcos em superfície sofrida e sem idade. Depois, depois fui ouvir suites, allegros, alegrettos. Cá fora (percebi-o à saída) o da barba em desalinho, ouvia, alto, no seu transistor, a Antena Dois: uma sinfonia de Mozart ...

Foi assim, tranquila, a minha tarde, a dois passos do Intendente de todas as perplexidades - ou talvez não."


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