terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Goa - Academia da Lingua e Cultura Portuguesa *

"Conheci Carlos Xavier em 1980, durante um almoço em Pangim, em que o anfitrião foi Froilano Machado, "speaker" da Assembleia Legislativa de Goa, Damão e Diu.

Revi-o agora, em Lisboa. Quando me procurou, contudo, eu não estava no jornal.

- Saiu daí há pouco um senhor goês... - disseram-me, mal cheguei.

Era Carlos Xavier, amável, que me visitava, deixando referências para retomarmos o diálogo interrompido em Goa.

Assim aconteceu.

- O sr. prof Carlos Xavier está?... - liguei, quase incrédulo.

- Um momento...

Aguardei uns segundos e logo do lado de lá da linha a voz goesa de Carlos Xavier: - Gostava de lhe falar da Academia da Língua e Cultura Portuguesa que nasceu durante aquele almoço, inspirada na sua sugestão de comemorar o centenário da morte de Camões, em Goa - disse-me em jeito de cumprimento.

- Verdade?!... - emocionei-me.

- Sim! Podemos falar?...

Combinámos o encontro.

Foi no dia seguinte, no Martinho da Arcada. Logo de manhã. Sem demora. Para matar saudades, rever emoções e... falar da Academia (minha "neta").

Desconheço o que, em idênticas circunstâncias, dizem duas pessoas emocionadas por um sentimento ancestral. Nós, a meu ver, falámos pouco, dissemos poucas palavras. Trocámos lembranças, sobretudo, lembranças. Contudo, ali fiquei a saber, mais uma vez, como, no meio de algumas humanas e naturais incompreensões, as vozes da cultura  portuguesa, com saudável espírito de coexistência, se continuam a fazer ouvir através de palestras, publicações periódicas, exposições, concertos, mantendo vivo o que foi, e é, universal na presença lusíada nos territórios de Goa, Damão e Diu.

Porém, se, naquele dia, no Martinho da Arcada, o verbo foi difícil, fácil  não é hoje escrever parte do que senti ao rever em Carlos Xavier, a Goa da minha saudade. Que a poesia diga o resto. Que fale por nós, amigo Carlos Xavier, o hino da Academia - que é da Língua e Cultura Portuguesa e tem muito mais força do que um homem - por mim escrevo, quiçá, por nós - apanhado na surpresa de um comovente e fraternal encontro consigo próprio.


Nos céus da nossa India,
Surge um astro brilhante!
Eia! Farol que nos alumia
O caminho p'ra frente!

Eia! Em ondas de harmonia
A doce língua lusa
Ecoa sonhos de Beleza
D'Arte, Música, Poesia!

Cantam as aves - cantando
Enchem de riso os jardins!
Eia! Também vamos cantando
Alegres ao som de clarins!

Vibram nossos espíritos
D'entusiasmo ardente
Eia! marchemos p'ra frente
Qiue sopram fagueiros ventos!"

* in "A Tarde" de 9.12.1983

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