segunda-feira, 10 de agosto de 2015

MACAU:Jogar ou pouco mais? *




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O PONTO FINAL foi experimentar as excursões de autocarro “Sentir Macau Passo-a-Passo”, que se ligam aos oito roteiros turísticos pedestres com o mesmo nome. Resultado: dois dias de viagem, dois percursos diferentes, zero visitantes.
Luciana Leitão
"Chama-se “Sentir Macau Passo-a-Passo” e tem por missão levar os visitantes aos pontos históricos da cidade, numa tentativa de mostrar uma Macau que não é só jogo. O período experimental começou a 1 de Agosto e termina a 14. O PONTO FINAL testou duas rotas, em dois dias diferentes, esperando encontrar outros turistas a quem fazer perguntas, mas acabou por fazer a viagem sozinho.
Numa sexta-feira, às 16h, fomos ao terminal marítimo, em Macau, para comprar um bilhete junto da agência, responsável pelas operações, a Gray Line Tours. Assim que entramos pedimos informações no ponto de atendimento aos turistas, onde havia grande publicidade à iniciativa, e os funcionários foram rápidos a indicar os procedimentos.
Seguiu-se uma ida ao guichê da Gray Line Tours para comprar o bilhete, que custa 100 patacas. Há três rotas, mas escolheu-se a B, que tinha início às 16h30 e durava aproximadamente uma hora. Este percurso implica uma passagem pela Praça do Tap Seac, pelo Templo de Kum Iam e pelas Portas do Cerco.
Solícitos e fluentes em inglês, os funcionários da Gray Line Tours, apesar de já serem 16h33, disseram ainda ser possível apanhar a rota das 16h30, escusando esperar mais uma hora pelo veículo seguinte. E ainda houve tempo para a pergunta: “Como se chama? De onde vem?” A resposta foi registada numa folha.
O autocarro, ainda que por fora tivesse um aspecto relativamente composto, talvez pela publicidade nova à iniciativa, por dentro parecia remontar aos anos 80: estava meio ferrugento e com cortinas bafientas.
Lá dentro, somos recebidos por um agente com um sorriso. “Olá, sou o seu guia de hoje. De onde vem?” Atencioso, revelou ser natural da Indonésia. Referiu que, por causa do tráfego, estimava que a viagem duraria uma hora, mas que poderia ser menos.
Preliminares feitos, seguiu-se uma breve introdução à cidade. “Macau tem cerca de 32 metros quadrados de área e 620 mil pessoas”, começou por dizer. Além de outros detalhes sobre o território, continuou: “Nas recepções dos hotéis e nas boutiques, vai ver funcionários provavelmente da China Continental. Alguns são também das Filipinas ou até da Indonésia.”
Enquanto o motorista continuava o seu percurso, passando pelo reservatório, a caminho da Praça do Tap Seac, frequentemente parado por causa do trânsito, o guia esclareceu: “Macau tem cerca de 200 mil veículos em circulação. Tem tantos engarrafamentos. Não se percebe...” Passando pela Praça do Tap Seac e pelo Templo de Kun Iam, o guia continua a explicar alguns detalhes da cidade. Perto das Portas do Cerco, esclarece que as bandeiras ali localizadas referem-se a uma festividade chinesa. “Aqui costuma fazer-se a dança do leão, traz boa sorte e afasta os espíritos malignos.”
Uma vez chegados ao posto fronteiriço, o guia realça que, sobretudo depois das 16h, costuma haver muito trânsito. No fim da visita, confidenciou que gosta muito destes percursos turísticas, e que por ali, durante a semana, passaram perto de dez pessoas, alguns da China, outros de Hong Kong e ainda coreanos.
A segunda tentativa
No dia seguinte, sábado, às 11h, faz-se uma nova experiência – desta vez, escolhemos a rota C, que leva a Taipa e Coloane. Novamente, dirigimo-nos ao posto da Gray Line, no terminal marítimo, onde compra o bilhete.
Seguimos até ao veículo, na esperança de encontrar outros turistas, mas apenas vemos uma guia. O autocarro aparenta ser menos velho do que o do dia anterior, mas ainda deixa um pouco a desejar, sobretudo quando se vê a ferrugem dos bancos.
No autocarro está a guia, natural do território, que fala fluentemente inglês. “Macau tem perto de 600 mil habitantes. Há 400 anos, era administrado pelos portugueses. É portuguesa?”, pergunta. E continua: “Depois da transferência, muitos regressaram ao país de origem, ainda que alguns aqui tenham ficado. Os que cá estão trabalham para o Governo, são proprietários de restaurantes, são professores. E também há macaenses, que são uma mistura.”
O autocarro, entretanto, fica parado durante algum tempo no trânsito, o que deixa a guia um pouco impaciente. Pelo meio, continua a narração: “Aqui temos um sistema de relativa autonomia, baseado no princípio 'Um País, Dois Sistemas'.”
A caminho da Taipa, realça: “Há sempre trânsito, temos muitos resorts grandes. Há dez anos ninguém ia à Taipa, mas hoje é bem diferente.” E continua: “Temos três pontes, mas não é suficiente. Quando a terceira ponte foi construída, na altura pensámos todos 'Meu Deus. Mais?' Agora, até são poucas...”
Chegados à ponte, um acidente entre três veículos faz com que o percurso seja pouco fluido e se demore 30 minutos a chegar ao outro lado. “Já foi às Casas-Museu da Taipa? Eram de antigos funcionários da administração. É perto da Rua da Cunha”, diz, acrescentando: “Na Rua da Cunha tem muitas coisas para ver, pode provar gratuitamente aqueles bolinhos de Macau, pode caminhar, ir a restaurantes macaenses/portugueses, como o Pinóquio ou a Petisqueira. E tem templos budistas. É muito famosa pela bifana de porco. Em chinês, diz-se chu pa pao.”
Assim que se chega à Taipa, há uma paragem no Terminal Marítimo Temporário, para recolher mais passageiros. “Esperamos um bocado, se chegarem mais, entram”, diz. Ninguém entra. Retoma-se o percurso.
Passando pela zona da Taipa antiga, a guia esclarece: “Temos aqui três templos, que pode visitar.” E continua: “Se não se vive aqui, é raro vir-se à Taipa antiga.” Apontando para a Rua da Cunha, diz: “É sábado, tem sempre muita gente ali.”
Passando pelo COTAI, não há palavras. Observam-se os hotéis-casino gigantescos e as obras que continuam até junto da entrada do recanto mais escondido da cidade. Mas, chegados ao destino, quando o relógio dita 13h, a guia assinala: “Em Coloane, não há casinos. É um ritmo muito mais relaxado do que em Macau [península]. É bom para passeios no fim-de-semana.”
Em dois dias, o PONTO FINAL fez-se turista em Macau e as 200 patacas que gastou (100 para cada dia), acabaram por nos conferir um tratamento quase VIP: 48 horas sem mais nenhum turista com quem dividir a atenção dos guias do Governo pagos para apresentar a Macau que existe além do jogo.
Os detalhes
Preço - 100 patacas para maiores de 12 anos; 50 patacas para menores de 12 ou idosos com mais de 65 anos
ROTA A
Horários: 11h/12h30/14h30/16h/17h30
Tempo de cirulação: 1 hora e meia
Local de partida: Terminal Marítimo de Macau
Percurso: Terminal, Doca dos Pescadores, Centro Ecuménico Kun Iam, Centro de Negócios Fortuna, Pousada de São Tiago, Praça de Ponte e Horta
ROTA B
Horários: 11h/1h/13h/14h30/15h30/16h30/17H30
Tempo de circulação: 1 hora
Local de partida: Terminal Marítimo de Macau
Percurso: Terminal, Praça do Tap Seac, Templo de Kun Iam, Portas do Cerco
ROTA C
Horários: 11h/13h/15h/17h
Tempo de circulação: 2 horas
Local de partida: Portas do Cerco
Percurso: Portas do Cerco, Terminal Marítimo de Macau, Terminal Marítimo Temporário da Taipa, Rua do Cunha, Largo do Presidente António Ramalho Eanes (Coloane)"

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