terça-feira, 3 de novembro de 2015

MACAU: "José Fonseca e Costa será recordado como um cineasta contemporâneo"



by Ponto Final
Fonseca e CostaJosé Fonseca e Costa, que faleceu domingo em Lisboa, foi sobretudo “um cineasta contemporâneo”, diz Ivo M. Ferreira. O realizador de “Kilas, o mau da fita” foi também um perfeccionista, bom contador de histórias, que amava as mulheres, descreve Cristina Soares, directora de produção de cinema e televisão.
Cláudia Aranda


“Tanto no ecrã, como fora do ecrã, era um bom contador de histórias, quis fazer filmes para o público, que o cinema chegasse às pessoas”, disse ontem ao PONTO FINAL Cristina Soares, directora de produção de cinema e televisão, a viver em Macau, falando sobre José Fonseca e Costa, cineasta que faleceu no domingo aos 82 anos, em Lisboa.
Para o realizador Ivo M. Ferreira, que conhecia e conviveu com Fonseca e Costa desde criança, o autor de “Kilas, o Mau da Fita” e da “Balada da Praia dos Cães”, foi essencialmente um cineasta “contemporâneo”, “que chegou pontualmente a um grande público, com um cinema com uma certa consistência, que trabalhou com os actores e os músicos do seu tempo, como o Sérgio Godinho. O seu trabalho acompanhou o tempo em que viveu”, disse ao PONTO FINAL.
Com “Kilas, o Mau da Fita”, de 1980, Fonseca e Costa consegue um dos seus maiores êxitos de público. Volta a alcançar um sucesso significativo em 1996, com “Cinco Dias, Cinco Noites”, uma longa-metragem adaptada do romance homónimo de Manuel Tiago, pseudónimo literário do líder histórico do Partido Comunista português, Álvaro Cunhal.
“Com certeza que será um personagem sempre lembrado, que se inscreve na história do cinema português de uma forma muito especial” afirma Ivo M. Ferreira. O realizador recorda a visita de Fonseca e Costa a Macau, em meados da década de 90, para participar numa retrospectiva da sua obra, organizada pelo IPOR (Instituto Português do Oriente).
Fonseca e Costa nasceu em Angola, mudou-se para Lisboa em 1945, militou no Partido Comunista português e chegou a ser detido pela PIDE. Em 1961 fixa-se em Itália e torna-se assistente estagiário de Michelangelo Antonioni, na longa-metragem "L'Eclisse".
Ivo M. Ferreira explica que Fonseca e Costa inaugurou uma segunda vaga do Novo Cinema português, na década de 1970, com o seu filme de estreia “O Recado” (1972). O movimento inspirado na “Nouvelle Vague” francesa e no “neo-realismo” italiano, havia tido início dez anos antes com “Verdes Anos” de Paulo Rocha, de 1963, e “Belarmino” de Fernando Lopes, de 1964. Ivo M. Ferreira adianta ainda que esta segunda geração do Novo Cinema, da qual faz parte também António-Pedro Vasconcelos com “Perdido por cem”, de 1973, introduz uma abordagem “um bocadinho mais permeável, fazendo um esforço para comunicar com o público, mas sem prejudicar a qualidade do cinema”.
Cristina Soares recorda os dias em que trabalhou com José Fonseca e Costa, na produção de “Viúva Rica Solteira Não Fica”, filmado em 2005, em Penalva do Castelo, no distrito de Viseu. “Estivemos sete semanas em Viseu e em Mangualde para fazer este filme, que era um filme de época, complicadíssimo, por causa dos adereços, e ele tinha muita atenção a todos os pormenores, mas também mantinha um aspecto muito particular, dentro do perfeccionismo e do rigor. Tinha um sentido de humor fantástico e era um apaixonado pelas mulheres, gostava de filmar bem as mulheres bonitas”, diz a produtora."
A notícia da morte do cineasta José Fonseca e Costa foi confirmada à Lusa pelo produtor Paulo Branco, que estava a produzir o filme do realizador, Axilas, baseado num conto do escritor Ruben da Fonseca, com argumento de Mário Botequilha.

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