domingo, 27 de dezembro de 2009

Bordéus 2004 - apontamentos (V)


FINGIR DE EMIGRANTE



Eventual madureza de cidadão comum, podia-nos ter dado para pior, mas, em vez de Paris ou outra grande cidade "de toda a gente", a minha mulher e eu, escolhemos uma terra onde fosse relativamente fácil todos encontramos todos...Os emigrantes, claro. Optámos por Bordéus. Não se percebe muito bem, de resto, se há lá franceses...


Um mês de estada, em "aparthotel", com "necessidade" de ir ao mercado, à padaria, de andar nos transportes públicos (com "passe" desde o primeiro dia, etc), de visitar a cidade, de conviver com os nossos, de ir às suas festas, de frequentar as igrejas dos seus bairros, de lhes falar na nossa língua, de lhes lembrar a terra que deixaram... De...de...


Bateu certo!...


Do contexto, apontamentos:


"De registar a alegria dos feirantes portugueses ao serem visitados por nós, vindos "de lá..."


"As mulheres, de uma maneira geral, não usam meias. E os sapatos são rasos. Mulher com saltos altos, em regra, tem saia curta e, se não dá nas vistas, não usa nada que a abone..."


"Atravessei, às 19 horas, bem sei que em dia feriado, a rua de Santa Catarina (a maior da cidade), de um extremo ao outro e, embora de impermeável amarelo brilhante, ninguém deu mostras de reparar em mim... Em tarde de céu muito nublado, noto..."


"À minha frente, uma sexagenária pediu um branquinho - em copo de pé alto. Trouxeram-lhe também uns amendoinzinhos para fazer boca... Não de pode concluir, pela cara, que se mete nos copos..."


"Dizem-nos em Portugal que o 112 é o número europeu de emergência, mas em Bordéus o que vejo nas ambulâncias é o 33. A França está dispensada? É só quando quer?...

E os táxis têm que ter cor creme? Mas aqui? Aqui, não! Creio mesmo que os há de diversas cores."


"Em mais de 20 dias em transportes públicos, ainda não vi ninguém a controlar títulos de transporte..."


"O rapaz que, na esplanada, ensaia viola, canta em surdina. Ninguém liga..."


"Um coxo "resolveu" o seu problema andando de "trotinette". O cão que o acompanha, acompanha-o na velocidade moderada a que anda o dono. A cidade é plana, o que facilita..."


"No "Le Monde", a propósito do Festival de Cannes, pode ler-se, a toda a largura, no topo de uma página dedicada à Cultura, a seguinte frase: "Amor a contra-relógio no quarto de hotel".


"Frases:
- Ataquemos as exclusões
- Partilhemos as riquezas, não as misérias
- A FN defende os capitalistas, não os trabalhadores, nem os excluídos
- Desobedecer às leis xenófobas e securitárias
- Resistir à extrema-direita e e ao racismo
- Não submeter à ditadura da economia e do mercado"


"No combóio, as pessoas, que já vinham sentadas com volumes nos bancos vazios, acomodaram-se e foi com dificuldade que os tiraram para deixar sentar pessoas idosas recém-chegadas..."


"O combóio, na ida e na volta, partiu e chegou, rigorosamente à hora prevista."


"Apesar de ser uma festa anual, não me pareceu que estivesse alguém do consulado português numa igreja cheia de...de portugueses."


"Nos arredores de Bordéus, umas cinco mulheres magrebinas estavam sentada num jardim, com uma cafeteira grande e uma caixa de biscoitos à sua beira, a beber chá. Nem me viram..."


"Enquanto o carro de transporte de valores não fez a totalidade da manobra para sair do local onde estava, o ajudante do motorista manteve-se no exterior com a mão numa pistola que tinha à cinta."


"Na Praça da Vitória, manifestação organizada pela CGT: uns 100 trabalhadores
contra as medidas do governo a propósito da Segurança Social. Tudo com comes e bebes (salsichas, febras e copos). Tudo a trincar..."


"Emílio Zola é nome de rua muito afastada do centro da cidade."


Basílica de St. Seurin, em Bordéus:
"Aqui repousa
Messire Martial François
President au Parlement de Bordeaux
Inhumé le 30 Novembre 1787
Requiescat in pace"

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