domingo, 21 de março de 2010

Subsídios para a História - Macau 95 (XXXV)

ENTREVISTA com o Dr. Leonel Miranda (cont.)

Antes de prosseguir, a síntese, até à data, da sequência destes Subsídios para a História:


Monsenhor Manuel Teixeira, I a VI


Drª Celina Veiga de Oliveira, VII a XII


Dr. Senna Fernandes, XIII a XV


António Conceição Jr., XVI a XVIII


Arq. Manuel Vicente, XIX a XXIII


Drª Margarida Rato, XXIV a XXVI


Carlos Morais José, XXVII a XXX


Comandante Sá Vaz, XXXI a XXXIII




Sem minimizar o que acaba de dizer, que significado tem um prédio de 20/30 andares sem
ninguém ou vários predios nas mesmas condições?...

Quer dizer, por um lado, a grande capacidade em criar, em produzir, em construir, e, por outro,  quer dizer uma coisa muito importante: é a grande confiança no futuro de Macau. Os empresários de Macau não são loucos e quando construiram esses edifícios, que continuam a construir, sabem que vão ser vendidos, que vão ser ocupados.

Simplesmente, como em todas as economias capitalistas, há ciclos mais positivos , há ciclos menos positivos, e Macau, nos últimos tempos, registou um ligeiro abrandamento económico. Mas esses edifícios por habitar significam uma grande confiança no futuro e serão habitados proximamente.

Afasta, portanto, a prazo, uma Macau/Malaca?

Acho que a língua e a cultura portuguesas vão perdurar em Macau muito tempo.

O seu optimismo vai para além de 50 anos?...

Vai, vai. Mas já agora, acerca de Malaca, deixe-me dizer-lhe uma coisa que me provocou imensa satisfação:  li, numa das mais influentes revistas da Ásia, que a sobrevivência de uma certa forma de estar e falar português em Malaca era uma coisa extraordinária, de séculos. Eles próprios revelam-se surpreendidos como é que isto tudo ainda é possível...

Em Macau, estou convencido de que tudo irá muito para além dos 50 anos...O esforço que se tem feito na recuperação do património é uma coisa extraordinária e há, como se pode ver em Macau, edifícios de traça portuguesa lindíssimos e que, de certeza, administração chinesa vai preservar. Percebe-se-lhes cada vez mais maior interesse por isso e cada vez mais interesse econónico nestas construções e nesta maneira de ser português em Macau. E, finalmente, do que representa a cultura portuguesa e ocidental.

Os próprios chineses sentem valor económico nisso, valor económico para o turismo. Eles próprios, nas cidades deles, de resto, estão a tentar preservar o que ficou do antigo. Cada vez mais atribuem importância ao tradicional, ao património e estou convencido de que o vão preservar em Macau.

Em 1994, havia aqui, aproximadamente, dez mil pessoas a aprender português, fora dos estabelecimentos oficiais de ensino. A presença da cultura portuguesa em Macau irá, portanto, para além dos 50 anos...

Dir-se-ia, então, que, a título póstumo, Camões "corre o risco" de ser nomeado embaixador honorário de Portugal...

"Corre o risco" de não ser esquecido em Macau.

O jardim Luís de Camões não corre o risco de, em vez do busto do Poeta, ter em seu lugar um crisântemo?

Penso que não... Será sempre o Jardim de Camões.

O que diria a um grupo de macaenses dispostos a ficar para além de 1999?

Chamava-lhes a atenção para a necessidade de não menosprezarem a sua formação, porque é a base da inovação e da criatividade. Sem inovação não há  progresso. E depois que aprendessem esta realidade envolvente de Macau e que vissem os fenómenos económicos que se estão a passar na Europa, e mesmo nos Estados Unidos, e os que estão a passar-se na Ásia...

Não os aconselhava a partir, porque o que é um facto é que, desde que tenham preparação, desde que tenham vontade e visão de futuro, o local mais exaltante para trabalhar é a Ásia, porque aqui, como costumamos dizer, é possível fazer coisas... É um continente com grande pujança económica, é um continente com um passo muito acelerado de desenvolvimento, e é um continente onde as oportunidades são vastas.

Portanto, o que eu lhes aconselharia era formação. Estudarem e agarrarem as oportunidades que não deixam de se cruzar na vida de todos, numa região de um crescimento tão rápido como é a região da Ásia e como é Macau e toda a área adjacente.

Agora juntou-se ao grupo de macaenses um grupo de chineses. Muda o discurso? O que é que lhes vai dizer?

Não seria diferente do anterior, porque todos os jovens têm as mesmas ambições e todos a mesma trajectória a percorrer. As condições para o sucesso dos jovens europeus não são diferentes das dos asiáticos ou dos portugueses ou  chineses. São todas iguais. Hoje quem não tiver uma boa formação, quem não tiver uma grande vontade de vencer, quem não tiver uma grande dedicação e um grande entusiasmo naquilo que faz, dificilmente terá futuro.

Todos os presentes estão conscientes de que vão ter que conviver. O discurso mantém-se?...

Vão ter que conviver, mas na competição...

Independentemente da cor...

Independentemente da cor.


Próximo entrevistado: Dr. Rogério Fidalgo.

Sem comentários :

Enviar um comentário

Seguidores