sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"A Lâmpada Marinha"

 Escrito, ao que leio, em 1954, atravessou gerações. Muitos lhe ditarão propósitos outros, e até, quiçá,  aparecerão a dizer coisas... Eu transcrevo-o a olhar para o Portugal que me ensinaram os que, cá em casa, tinham calos que não exibiam...

De Pablo Neruda

"Portugal!
Volta ao mar, aos teus navios.
Portugal!
Volta ao homem ao marinheiro
e volta à tua terra e ao teu cheiro
à tua razão livre
no vento verdadeiro
e à luz da madrugada
dos cravos e da espuma.
Mostra-nos o teu tesoiro
de homens e mulheres.
Não escondas mais o teu rosto
de embarcação valente
nas vagas avançadas do Oceano.
Portugal, navegante,
descobridor das ilhas,
inventor de pimentas,
descobre o homem novo
nas ilhas assombradas
e descobre, no tempo, o arquipélago.
A súbita
aparição
do pão
que chega à mesa
A aurora
descobre tu a aurora
descobridor de auroras.
Como podes negar-te
à claridade da luz
tu que iluminaste
os caminhos escuros?

Tu, doce, férreo, velho
estreito e amplo pai
do horizonte
como podes
fechar a porta
a estas novas raízes
às estrelas do vento do Oriente?

Proa da Europa
procura na corrente
as vagas ancestrais
e as barbas marítimas de Camões.
Rompe as teias
que as aranhas teceram
nos teus verdes ramos.
E então
a todos nós
os filhos dos teus filhos
aqueles para quem
descobriste as praias
até então obscuras
da clara geografia
mostra que podes
atravessar de novo
os novos mares escuros
e descobrir o homem que nasceu
nas ilhas mais imensas que há na terra.
Navega, Portugal, a hora
chegou. Levanta
tua estatura de proa
e entre as ilhas e os homens volta
a ser caminho.
Junta ao nosso tempo
a tua luz. Volta a ser lâmpada:

aprenderás de novo a ser estrela."

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