domingo, 23 de janeiro de 2011

Manuel de Arriaga - primeiro Presidente da República Portuguesa

Mão amiga fez-me chegar, há cerca de um mês, uma breve biografia de Manuel de Arriaga. Arquivei-a com os cuidados que se imaginam - para, no limite, HOJE, e no essencial, a transcrever, aditando-lhe, já agora, uma brevíssima nota de Augusto de Castro.

"Era oriundo de famílias aristocráticas e descendente de flamengos.

O pai deixou de lhe pagar os estudos e deserdou-o.

Trabalhou, dando lições de inglês para poder continuar o curso.

Formou-se em Direito.

Foi advogado, professor, escritor, político e deputado.

Foi também vereador da Câmara Municipal de Lisboa.

Foi reitor da Universidade de Coimbra.

Foi Procurador-Geral da República.

Passou 50 anos da sua vida a defender uma sociedade mais justa.

Com 71 anos foi eleito Presidente da República.

Disse na tomada de posse: "Estou aqui para servir o meu país. Seria incapaz de alguma vez me servir dele..."

Recusou viver no Palácio de Belém, tendo escolhido uma modesta casa anexa a este.

Pagou renda da residência oficial e todo o mobiliário do seu bolso.

Recusou ajudas de custo, prescindiu do dinheiro para transportes, não quis secretário, nem protocolo e nem sequer Conselho de Estado.

Foi aconselhado a comprar um automóvel para as deslocações, mas fez questão de o pagar também do seu bolso."


Todavia, todavia...

O deputado, escritor e jornalista, Augusto de Castro relata uma conversa com o ex-presidente Manuel de Arriaga pouco antes de este morrer em 1917:

"O velho, de admirável cabeleira de tribuno, de porte aristocrático e olhar romântico, que fora outrora um dos mais lindos rapazes do meu tempo, transformara-se em meia dúzia de meses, num velhinho curvado e triste (...). Arriaga contou-me os únicos prazeres do seu exílio - as flores, as suas telas, os seus poetas (...). Naquela tarde, sentado nessa saletazita que nem raio de sol aquecia, contei ao pobre velho as minhas fáceis previsões. A política não fora feita para os idealistas e para os poetas, como ele - acrescentei.


Arriaga escutou-me em silêncio, forçando o sorriso de comprazimento. Uma névoa de lágrimas velou-lhe o olhar. E como falando para si desenhando com a bengala no tapete traços trémulos, disse-me, com um ironia em que procurou pôr altivez, mas em que apenas havia o fel de uma mágoa introduzível: "sou um criminoso político, meu amigo..."













Já votei. Seja o que Deus quiser!

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