domingo, 30 de janeiro de 2011

Promessas *

Subsídios para um discurso político:

"Das coisas precisas para meu uso e sustento não usarei sem especial licença, as quais admitirei por esmola, considerando o pouco que as mereço e depondo qualquer direito que a elas pudera ter.


Prometo não admitir nem procurar o de que necessite sem conhecida necessidade.


Antes de jantar farei exame de consciência do que tiver feito desde o princípio do dia.


Tirarei todos os dias uma virtude por sorte, exercitando-a na forma possível, tendo grande amor a todas e desejo de segui-las.


Não perderei as ocasiões que se me oferecerem de exercitar qualquer virtude e trazer particular exercício na humildade, desprezo próprio e paciência, aceitando bem quanto me suceder ao revés do meu natural.


Examinarei todas as obras boas que fizer, no princípio, a intenção e, no fim, o como as fiz.


Resistirei quanto me for possível a todos os escrúpulos impertinentes que eu tenha por tais ou me disserem que o são.


Farei tudo por suspender a ociosidade dos pensamentos inúteis e muito mais nos pecaminosos no modo que puder e, quando me seja dificultoso, prometo não os consentir.


Prometo procurar com a diligência possível seguir em tudo o que me disserem é mais perfeito.


Em sentindo qualquer hombridade ou repugnância, farei por vencê-la e, em caso que seja lícito, continuar aquilo, purificarei a intenção.


Em as coisas de meu uso, admitirei facilmente o mais pobre, indo em tudo contra o meu génio, a fim de mortificá-lo.


Não falarei contra a verdade usando de palavras jocosas nem outras que mostrem ociosidade vã.


Fugirei de práticas impertinentes que me possam arriscar a alguma culpa e quando me não seja possível fugir com a pessoa, o farei com a alma, retirando-me ao interior.


Não murmurarei, nem em matéria leve e, quando o vir fazer, trabalharei pelo evitar ou não o ouvir, retirando-me em dissimulação.


Quando me disserem o de que não goste, não responderei nada sem primeiro sossegar os impulsos da natureza.


Admitirei com humildade as repreensões e avisos que me derem e, quando me achar culpada, me mostrarei mais agradecida.


Não me desculparei, ainda que me criminem, salvo se houver escândalo não dizer a verdade.


Prometo não fazer voto algum nem promessa sem que primeiro consulte a quem me guia.


De todas as minhas obras aplico a parte da satisfação das Almas do purgatório que mais agradarem a Deus, reservando o que me for necessário para alguma necessidade particular.


Do merecimento de minhas obras ofereço a Deus a metade pelo bem espiritual de meus directores por ser dívida de escrava o dar-lhe igual parte do que ganhar.


A outra metade de meus pobres merecimentos para ficar nua nos braços da Divina Providência, ofereço em geral por todos os Prelados e Bispos, especialmente por meu Primo a quem quisera coubesse a maior parte (...).




* Segundo João Palma-Ferreira, "entre 13 de Novembro de 1681 e os finais de 1703, no Convento da Madre de Deus de Xabregas, em Lisboa, uma religiosa, Soror Clara do Santíssimo Sacramento, que no século se chamou Antónia Margarida de Castelo Branco, por alguns nomeada Antónia Margarida de Albuquerque ou apenas Antónia de Albuquerque, escreveu e rescreveu a sua Autobiografia", de que se dá aqui um pequeno apontamento para mortificação dos pecados que por aí, eventualmente, possa haver. Assim seja! Se possivel, já agora, ignorando primos.

Sem comentários :

Enviar um comentário

Seguidores